terça-feira, setembro 03, 2013

«Mordomas de Nossa Senhora de Fátima»

Razões diversas têm motivado estes longos intervalos nos nossos contactos através do blogue Salvador barquinha d’ oiro – Blogue do Salvador de outros tempos. É um facto que, tratando-se de materiais antigos – alguns nossos, mas a maioria imagens que nos são cedidas pelos salvadorenses que nos leem –, a missão do blogue vai-se complicando, apesar da nossa vontade de a continuarmos enquanto possível.
Hoje trazemos aqui uma relíquia de meados do século passado (1954), encontrada entre os documentos que o nosso conterrâneo e especial amigo Libério Martins, conseguiu recuperar do espólio bibliográfico deixado pelo seu avô e salvadorense ilustre José Candeias da Silva (1887-1959), que, para quem não conheceu, recomendamos o apontamento biográfico inserido nosso livro Salvador barquinha d’ oiro – O tempo dos nossos avós», pp. 56-64.
É um documento simples, cuja importância fundamental reside no facto de as jovens ali mencionadas serem hoje já respeitáveis senhoras  de cabelos brancos e simpáticas avozinhas, com as quais ainda nos vamos cruzando, já que mais não seja, na visita anual que todos fazemos ao Salvador pela festa de Santa Sofia.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Gente da minha rua (2)


Já aqui referi a minha rua – a Rua da Cinza –por várias vezes. Não mo levarão a mal, certamente, e julgo que também os que me lêem gostarão de evocar os locais que maiores lembranças lhes proporcionam, como é o caso da rua que os viu nascer e/ou crescer para a vida.
Trago hoje aqui uma fotografia de um casal da minha rua, Manuel Manteigas Raposo e Leonor de Oliveira, ele exercendo o honrado ofício de sapateiro e ela doméstica. Tiveram (se a memória me não atraiçoa) cinco filhos: o Américo, a Maria, o António, o Ismael e a Lurdes. Esta era a mais nova, nascida em 1937 (tal como este vosso amigo), mas infelizmente já falecida há alguns anos.
Manuel Raposo era, para além de profissional muito considerado, um homem bastante esclarecido para a sua terra e a sua época. Era dos poucos salvadorenses alfabetizados, interessados e participantes nos assuntos comunitários, sociais e políticos.
Recordo que, nos anos cinquenta, homens como Manuel Raposo, José Calamote e Frederico Costa, se quotizaram para assinar e ler o jornal República, e, com alguns outros, se reuniam muitas vezes para falarem de assuntos mais gerais, que extravasavam as meras rotinas salvadorenses.

A foto foi-me facultada pelo estimado amigo Manuel Sebastião, viúvo da Lurdes Raposo.

terça-feira, agosto 07, 2012

Gente da minha rua


Moravam na minha rua, a Rua da Cinza, e era um casal extremamente simpático, que eu já conheci  com muita idade, bastante velhos mesmo, quando comecei a reparar em pessoas, para além dos meus familiares chegados e dos outros garotos, meus colegas da brincadeira.
Maria Bárbara Robalo e António Amaral Antunes, ambos de pequena estatura, ela doméstica e ele alfaiate e barbeiro, acumulando, como era de uso naqueles recuados tempos, com funções virtuais de médico, de cirurgião, de farmacêutico, de dentista e de enfermeiro, que não existiam no Salvador de então.
António Amaral Antunes era das poucas pessoas da terra que sabia ler e escrever,possuindo, ainda, vasta gama de conhecimentos empíricos. Para lá dos ofícios que exercia, e de que vivia, teve oportunidade de aliviar dores e curar certas maleitas aos seus conterrâneos, chegando a salvar vidas com os seus serviços e saberes, o que, de outro modo, seria impossível. Ainda lhe sobrava tempo paras funções cívicas: em 1926 integrava, como secretário, a Junta de Freguesia de Salvador, juntamente com  o prof. Manuel Vicente Moreira e com José Antunes Peres.
António Amaral Antunes já faleceu há muito tempo, com 82 anos. Era pai de Manuel Amaral Antunes, também há muito falecido, que seguiria o pai nos ofícios, nos saberes e na consideração pública, apesar de já em tempos diferentes, e avô do nosso particular amigo de infância, José Gonçalves Amaral, ou Zeca Amaral, também salvadorense de qualidade, também ele já a aproximar-se seriamente dos oitenta.

A fotografia foi-nos cedida por  Leonel Salvado, a quem agradecemos.

Umas férias em Salvador

O Salvador Barquinha d’Oiro – Blogue do Salvador doutros tempos está a ficar muito atrasado. Faz hoje precisamente seis meses que deu à estampa – ou ao ciberespaço – o seu último artigo.
Não temos desculpa para o facto, portanto não vamos queixar-nos da falta de tempo, nem da falta de assunto, nem da falta de disposição, nem, ao menos, acusar a crise global ou confessar a nossa preguiça de estimação. Ninguém nos acreditaria, em qualquer dos casos.
Chegados a este ponto, o melhor é mesmo fazer qualquer coisa.
Já vai entrado Agosto, e temos mais uma Santa Sofia à porta. É altura dos salvadorenses passarem uns dias na sua terra, para matarem saudades da família, dos seus amigos ou dos seus antigos companheiros.
A foto acima, de cerca de 1980, é apenas uma «repetição» de tantas outras onde, ao longo da vida, os salvadorenses registam os momentos mais marcantes e os recantos mais emblemáticos de uma férias na sua terra.
Alguns destes rapazes já não nasceram em Salvador, mas aguardaram ansiosamente pelas férias, para repetirem esta cena e se deliciarem, na companhia dos seus amigos, com os inigualáveis passeios ao cimo da serra, nas tardes quentes do verão de Salvador.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

A carroça e o automóvel

Mais duas fotografias a relembrar o Salvador de outros tempos.
Na primeira, tirada em meados dos anos cinquenta no entroncamento da travessa que liga o adro da igreja com a Rua da Cinza, vemos Rui Serrano Candeias, conduzindo o seu macho e respectiva carroça, de regresso de um dos seus prédios, trazendo de boleia dois jovens, que devem ser o José Alberto Vicente Lopes e a Severiana Candeias Lopes. Rui Candeias, já de provecta idade, mas felizmente ainda entre nós, foi honrado comerciante da nossa terra, durante toda uma vida, sendo credor, tal como a sua mulher, Alice Peres, da amizade e da consideração das diferentes gerações de salvadorenses, gratas não só pelo atendimento comercial impecável, mas, em grande parte, devido ao serviço público de telefone, que estava a seu encargo e representava tarefa assaz complicada, tendo em conta o nível humilde da generalidade das pessoas servidas, o que mais ainda realçou as elevadas qualidades humanas do casal de comerciantes.
A segunda foto é do princípio de sessenta, tirada em frente da loja de Rui Candeias, hoje Largo Maria Bárbara Tavares da Silva. Não sabemos de quem era o automóvel, mas junto dele vemos, entre outros jovens, a já referida Severiana (as fotos são dela), o José Alberto, a Maria Adelaide Lopes e a Isilda Candeias.
 

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Crianças de Salvador

Quando vamos ao Salvador, parece-nos que a nossa aldeia só tem velhos. De facto, estes novos tempos trouxeram a desertificação às povoações do interior, cujas populações activas demandaram outras paragens, em busca de melhores condições de vida. As exigências da modernidade trouxeram novas necessidades económicas, culturais e sociais, bem como diferente modelo familiar, mais reduzido, para fazer face às realidades do presente.
 O Salvador de hoje, pode dizer-se, não tem crianças. Já nem tem, aliás, escola em funcionamento. Os poucos alunos que existem vão  aprender para Penamacor, juntando-se aos de outras freguesias também desertas nesta matéria.
Tempos houve em que a garotada enxameava as ruas da aldeia, a caminho da escola ou por todo o lado, na sua retouça de diabretes à solta, a correr e a saltar, a palrar e a cantar alegremente.
Veja-se a foto, provavelmente de 1956, e a grande quantidade de meninas e meninos da primeira comunhão, obviamente apenas uma parte das crianças que o Salvador tinha naquele tempo.

(A foto foi-nos cedida pelo prof. Libério Lopes – então seminarista e que aparece lá atrás, junto do umbral da porta da igreja –, a quem muito agradecemos).

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Álbum de fotografias

Esta é a primeira página dum álbum de fotografias de dois jovens namorados nascidos em Salvador no longínquo ano de 1937. Teriam, aqui, cerca de vinte anos.
São a Maria Augusta Afonso e o Albertino Calamote. Ela filha do guarda-fiscal José Afonso, morador na Rua da Salgadeira, e, ele, filho do sapateiro José Calamote (Violas), morador na Rua da Cinza.
Casaram-se em 31 de Dezembro de 1961 e tiveram dois filhos, a Fátima e o José Carlos.
A Maria Augusta foi-nos roubada aos cinquenta anos, por uma doença das que não perdoam, e o Albertino continua por cá, de momento a escrever-vos estas linhas, para mitigar saudades e para dar continuidade ao Salvador Barquinha d’Oiro – Blogue do Salvador de Outros Tempos.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Salvador anos quarenta

Esta imagem é do Salvador dos primeiros anos da década de quarenta do século passado.
As duas mulheres são a Maria Clara Silva e a Lourdes Candeias Lopes, esposas, respectivamente, de Frederico Costa Silva, proprietário, e de Domingos Lopes, guarda fiscal, este de Aranhas  e longos anos a prestar serviço na nossa terra.
Quanto às crianças, três das meninas são filhas do casal Silva: apesar de nos ser difícil identificar cada uma, são a Alda, a Lucrécia e a Dulce; o casal Lopes teve dois filhos, o Libério e a Severiana (a quem devemos a foto): ela ainda não era nascida, e ele é o menino do colo, que, então, teria cerca de três anos e estaria pouco interessado no passarinho...
O local, agradavelmente beijado pelo Sol,  é o imponente balcão de granito da casa de Frederico Costa.